Já não é coisas de gajas
Boas.
Enquanto hoje andava a ver o que andava aí na Net deparei-me com um artigo que me despertou a curiosidade. O mesmo falava do Período Menstrual e da vergonha que as mulheres têm ao falar disso. Até posso compreender e concordar mas tenho que ser egoísta e falar nos homens. Quantas vezes nós, (e estou também incluído) é que falamos disto com as nossas esposas ou namoradas? Pois bem para que o tabú e a vergonha fique mais enterrado aqui deixo uma peça que fala mesmo disto. Então cá vai:
O tabu da menstruação. Quem tem medo do período?
As mulheres passam um total de 8 anos com o período, mas continuam a pedir tampões num sussurro mesmo perante as outras mulheres. De emojis a baixas para as dores menstruais, o tabu tem consequências e há quem queira acabar com ele. Tem que se falar disto!
Hoje em dia embora a Sociedade esteja cada vez mais aberta, falar no período começa a ser mais fácil, pelo menos quando comparadas com o chaupadi – a prática hindu que ainda hoje obriga muitas mulheres no Nepal a ficarem fora da sua casa, e a dormir na rua ou em abrigos para animais, durante a menstruação, a fim de preservar a pureza do lar –, e cada vez se levam menos a sério, mas são símbolos de estereótipos maiores com consequências reais na forma como a menstruação continua a ser um tabu no século XXI. Sim em 2017, isto é como falar de um segredo de Estado!
Já não valem exactamente as palavras do Velho Testamento, onde se lê que a mulher com o período fica “impura durante sete dias” (nem relacionado com as religiões fala sobre isto?) e torna impuro tudo aquilo em que toca durante essa fase, mas não foi há assim há tanto tempo que o Instagram eliminou uma imagem partilhada pela fotógrafa Rupi Kaur por não seguir “as normas da comunidade”: era uma fotografia de uma mulher de pijama, deitada de costas na cama, com uma mancha de sangue nas calças e outra nos lençóis. Se ainda fossem imagens de assassinatos ou pornográficas estava tudo bem, agora «disto» não.
Segundo um estudo da associação Plan International, especializada em questões femininas, os números em 2017 continuam a ser preocupantes: dois terços das mulheres sentem-se desconfortáveis a falar do período com os homens que conhecem (incluindo os pais e namorados), um quarto das mulheres tem vergonha de falar sobre isso com as colegas de trabalho, 50 por cento das estudantes diz que não falaria sobre isso com uma professora e 75 por cento não abordaria o assunto com um professor, e isto é sem sair da Europa. No Gana, por exemplo, 90 por cento das mulheres sente vergonha de ter o período e na Etiópia 51 por cento perde um a quatro dias de escola por mês por estar com a menstruação. Se compreendo que muitas raparigas até possam ter vergonha de falar com os pais (embora as mães penso que terão que alterar este estado de coisas), o falar com o seu companheiro não seria o normal?
Se cada mulher tem, em média, cerca 450 ciclos menstruais durante a vida, que é o equivalente a cerca de 3.000 dias (ou 8 anos e meio), e se é provável que neste momento cerca de 800 milhões de pessoas no mundo estejam com o período, além de estar mais do que enquadrado no funcionamento normal do sistema reprodutivo, os especialistas têm dificuldade em entender que o tabu ainda exista em 2017, e mais dificuldade ainda em perceber o silêncio em torno da menstruação, sobretudo tendo em conta os danos que provoca.
Mesmo, mas deixo aqui uma pequena reflexão. Sou de uma altura em que isso era (e pelos vistos é) uma coisa que não se falava em casa, mas não seria um bom tema para abordar nas Escolas em vez de coisas que quase de certeza não trarão nenhum benefício?
Uma das coisas «engraçadas» é que por exemplo nos filmes ou em telenovelas, não há mulheres menstruadas. Nos livros infanto-juvenis, onde assuntos mais complexos (a morte ou doenças mais graves, por exemplo) são abordados para preparar as crianças para lidar com eles, não existe o período.
E é assim na cultura pop em geral. O que, ainda assim, não tem consequências tão prejudiciais como o facto de a TPM (tensão pré-menstrual) e as dores menstruais serem referidos quase sempre em tom de comédia ou como um capricho de género. E nisto as mulheres ligadas ao mundo da Televisão ou Cinema pouco levantam a sua voz.
“Essas dores há muito tempo que se limitam a ser levadas a sério apenas entre mães, filhas, irmãs e amigas, em vez de serem alvo de um debate sério e permanente por parte de toda a sociedade”, diz Siobhan Fenton, académica na área da sexualidade, num artigo publicado no jornal britânico The Independent em que defende que o verdadeiro impacto físico do período só não é levado a sério por causa dos estereótipos de género, que fazem com que as dores pareçam um exagero dramático das mulheres.
Para não ser muito chato, amanhã a esta hora estarei aqui novamente com a segunda parte do artigo.