Poupar tostãozinho
Boas.
Chegando nós a uma altura crítica do mês deparei-me a ler um artigo que me chamou a atenção e que falava sobre o criar um planeamentofamiliar. Embora possa ser um assunto um pouco chato, penso que interessa à maioria das pessoas. Cá vai então:
Como fazer um orçamento familiar?
Os autores João Barbosa e João Raposo, dois especialistas em Gestão e Finanças, acabam de lançar o livro 'Doutor Finança', no qual explicam os "3 passos para ter uma carteira saudável".
Como fazer então um orçamento familiar
1 - IDENTIFICAR AS RECEITAS
Este primeiro passo é muito importante e, mais importante ainda, é distinguir as receitas fixas das receitas variáveis, até para podermos perceber a incerteza em torno do nosso rendimento. Mas numa família «normal» as receitas variaveis acontece se uma tia afastada nos deixara aherança, ou se por acaso acharmos alguma carteira.
Para simplificar temos que identificar as receitas e para isso bastará consultar os recibos de vencimento de ambos os membros do agregado. Nos recibos facilmente se percebe os itens fixos (salários, subsídio de alimentação e alguns extras como subsídios de turno ou isenção de horário) e os itens que podem variar (horas extras feriados, prémios, entre outros).
As receitas variáveis são, por inerência, incertas. Significa que não temos a certeza de as receber no mês seguinte. Ao planearmos as despesas com base nestas receitas, estamos a correr o risco de vir a ter uma má experiência já que essa parcela poderá desaparecer de um momento para o outro. Mediante isto temos que ser conservadores quando analisamos as receitas variáveis para evitar problemas mais à frente
2 – IDENTIFICAR AS DESPESAS FIXAS
O passo seguinte é identificar as despesas fixas, ou despesas essenciais, que não pode ou não dá mesmo para cortar. Elas por norma têm um peso elevado no orçamento familiar e tendem a ter um valor mais ou menos estável ao longo dos meses e anos. Têm também a característica de serem exigidos em datas fixas no mês, como por exemplo, a prestação da casa e demais despesas domésticas (eletricidade, água, gás e telecomunicações), créditos, seguros, educação, transporte, medicamentos, entre outras. Cada família tem as suas prioridades, pelo que cada um saberá com maior ou menor detalhe o que é essencial e aquilo que poderá cortar.
3 - IDENTIFICAR AS DESPESAS VARIÁVEIS
Esta é a tarefa mais demorada e que dá má imagem ao nosso orçamento familiar. Olhamos para a identificação das várias despesas diárias com maus olhos porque pensamos que nos tira a liberdade. Sendo certo que num primeiro momento pode ser estranho, numa segunda fase o processo entra em piloto-automático e acaba por se tornar um hábito.
Depois de identificadas as receitas e despesas, deveremos somar os valores e perceber a nossa situação líquida. Por outras palavras, devemos subtrair as despesas às receitas e saber se poupamos dinheiro ou se teremos de nos endividar. Ficamos, assim, com o retrato do nosso mês. E se no primeiro mês o orçamento é feito com as receitas e despesas já realizadas, o objetivo é olhar para a frente e planear o resto do ano, com a finalidade de sermos nós a controlar o nosso dinheiro e não ele a controlar as nossas vidas.
GUIA DE BOAS PRÁTICAS ORÇAMENTAIS
Agora que sabemos fazemos um orçamento familiar, é tempo de perceber que, fazê-lo, deve tornar-se um hábito, para o qual devemos ter um conjunto de boas práticas.
Naturalmente, cada família terá os seus métodos para adaptar o orçamento familiar à sua realidade.
É um pouco como as dietas: se não se adequam ao nosso quotidiano, rapidamente as abandonamos e a barriguinha não nos larga. E isso é algo que não devemos fazer com o orçamento familiar, porque é muito importante ganhar uma capacidade de análise e um esquema de pensamento que facilite a tomada de opções. Quando este hábito se instalar, ganharemos uma nova liberdade, já que passaremos a gastar o dinheiro naquilo que definimos como prioritário e não no que uma qualquer empresa de consumo nos quer vender. Por isso, olhe com muita atenção para o seu orçamento.
Detalhe onde gasta o seu dinheiro
É um dos procedimentos mais importantes, se não o mais importante. Ter em atenção que somos tentados a não identificar as pequenas despesas e o destino que damos aos levantamentos em numerário (no multibanco, por exemplo, são muitas vezes tipificados como outras despesas). Ao não identificar estes movimentos estamos a desconsiderar uma fonte importante de gastos, que faz toda a diferença entre poupar ou não poupar. Dois cafés por dia é quase insignificante, mas se multiplicarmos 1,40 por 365 dias já dá para ver que que isso dá quase um ordenado!!
Envolva toda a família
O casal deve estar alinhado na construção do orçamento familiar porque ele vai servir de base para a tomada de decisões de curto, médio e longo prazo, decisões essas que afetam toda a família. Além disso, todos deverão estar envolvidos nos esforços e nos benefícios associados a um novo conforto financeiro.
Valorize a escassez
Tente que o seu orçamento tenha espaço para poupança e que não gaste todo o dinheiro simplesmente porque ele está disponível. Para criar este efeito, basta transferir, no início do mês, um determinado montante para uma conta à parte. Com este pequeno passo, tornamo-nos mais criteriosos na tomada de decisão, na medida em que começamos o mês com menos dinheiro disponível. Além disso, passamos a dar mais valor ao resultado das nossas decisões. Sei que isso não é fácil, mas nem que seja 20€ por mês isso já dará alguma coisa ao fim do ano. E embora não seja nada de especial etr ao fim de 10 anos quase 2500€ é melhor que zero.
Tenha uma margem de segurança
Ao elaborar o orçamento, garanta que os possíveis erros de previsão e de cálculo não têm um impacto nefasto no conforto da família. Esta margem dar-lhe-á o benefício adicional de saber que a família fica protegida de eventualidades. Falamos de uma percentagem do rendimento da família, por exemplo. E no final do mês, se não a utilizou poderá usar o dinheiro para reforçar a sua conta poupança (já sabe, evite gastar o dinheiro simplesmente porque está disponível na conta). Gastar 100 € num mês por causa de um medicamento ou de uma ida ao dentista acontece mais depressa do que se pensa.
Procure acompanhamento regular
Há quem defenda que devemos acompanhar o orçamento todos os dias; outros todas as semanas ou todos os meses. Talvez possa começar por fazer uma análise rigorosa das suas despesas nos últimos meses, esforçar-se por cortar custos, definir objetivos e colocar a gestão do dinheiro em piloto automático. Ao fim de três meses, poderá voltar a fazer o exercício, sendo que a sua conta à ordem irá transmitir-lhe sinais do cumprimento dos seus objetivos. Ao acostumar-se a este exercício, poderá aumentar a regularidade do controlo.
Vença a inércia
Ser consequente. Quer isto dizer que não deverá apenas analisar a informação mas, mais importante, desenvolver todos os esforços para agir de acordo com a informação que recolheu. Pode dar trabalho, mas certamente que compensa bastante quer a curo quer a longo prazo.
A inércia é dos principais inimigos de umas finanças pessoais saudáveis. Obriga-nos a sair da nossa zona de conforto, dos nossos hábitos, a ter trabalho. Para se fazer uma maratona é preciso treinar, ter várias rotinas de treino e diferentes níveis de exigência. Tudo para atingir os objetivos a que se propõe o atleta.
A vertente financeira é, a par da saúde, um campo que estará sempre presente na nossa vida. Teremos de viver com as consequências das nossas decisões todos os dias. Assim, ao falarmos de estratégias para melhorar a nossa carteira, deveremos procurar ser consistentes, ter rotinas que criem hábitos e facilitem os nossos esforços. E ao fazermos isso para além de nos ajudarmos a nós próprios, os nossos filhos vivem e participam nisto.