Sai um café com leitinho, ou não!
Olá.
Sabem aquele leite com chocolate que nos ofereciam na escola primária? Pois bem, esse argumento poderá servir para colocar o Estado em tribunal mediante aquilo que ouço. Vamos lá então:
Afinal, será que o leite faz assim tão bem?
Nos últimos anos vários documentários têm vindo a questionar o que sabemos sobre a alimentação e saúde e a levar milhares de nós a adoptar novos estilos de vida
Nos últimos anos multiplicaram-se os relatos de intolerância à lactose (sendo que quando era miúdo nunca se ouviu este tipo de coisas) e a indústria alimentar acompanhou os receios da população com uma panóplia de “laticínios” à base de cereais. Porque bebemos leite? Será que isto faz mesmo bem? As opiniões parecem dividir-se cada vez mais e a resposta está cada vez mais distante de ser unânime.
A ideia de que o leite poderá não só não fazer bem como até poderá fazer mal aos ossos é uma das afirmações polémicas de documentários sobre alimentação. Em vários documentários, alguns médicos reconhecem que o leite está cheio de vitaminas, mas reforçam que estas não se destinam aos humanos. Porquê? Porque a sua função é apenas uma: transformar um bezerro num animal grande e saudável o mais depressa possível. Mas isso só se aplica ao leite, pergunto eu?
Mas continuando, quando os humanos bebem essas vitaminas, pode haver mais prejuizos que beneficios.
No documentário “Forks over Knives”, um dos médicos entrevistados refere um estudo que demonstrou que quanto mais elevado é o consumo de leite e derivados, maior é o índice de osteoporose (doença que afeta os ossos e os deixa mais frágeis), isto é, nos países onde o consumo de leite é maior, a taxa de fraturas ósseas também é maior.
Quanto à tese de que aumenta o risco de fraturas, a teoria agora na moda é que o leite, quando ingerido, liberta ácido que desequilibra o pH corporal, desencadeando uma resposta biológica: voltar a equilibrar o nível de acidez. Para isso, o nosso organismo vai libertar cálcio, por se tratar de um neutralizador. Como este está armazenado nos nossos ossos, a estrutura óssea acaba por ficar fragilizada. Outra agravante, reclamam os documentários, é o facto de o leite, depois de pasteurizado, se tornar um alimento processado; assim, a sua composição química é alterada e a acidez torna-se ainda maior. Uma pergunta, o que se vai comer e beber depois disto?
Mas continuando em “Cowspiracy”, alega-se mesmo que o leite pode aumentar o risco de tumores nas mulheres, podendo ainda inchar o útero e causar fibroides. Perante tão diferentes informações, o que fazer? António Carneiro, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e que tem procurado desmontar mitos no Centro de Medicina Baseada na Evidência, protagonizou este verão um vídeo para o site Saúde Online, bastante partilhado nas redes sociais. Na opinião deste especialista, é preciso cautela quanto aos resultados científicos, que ainda não foram decisivos. Alguns estudos têm apontado, de facto, para que o leite possa ser prejudicial para os ossos, mas os ensaios clínicos não o confirmaram. “Neste momento não existem bases científicas que nos permitam dizer que o leite faz mais mal que bem à saúde”, disse António Carneiro, que ajuda a desmontar um dos argumentos mais comuns: o facto de sermos a única espécie que bebe leite na idade adulta não permite concluir nada. “Há gatos que comem cozido à portuguesa ou peixe grelhado”, questiona.
Por princípio, diz o médico, é um excelente alimento e pode contribuir para uma dieta equilibrada. Deverá ser evitado por pessoas com deficiência em lactase e que não o toleram, tendo sintomas como muitos gases, cólicas e diarreias. Condição que, isso sim, não parece ser mito: estima-se que afete uma em cada duas pessoas, nuns casos com mais intensidade do que noutros. Até porque conheco pessoal que de leite nada, mas de gases parecem foguetes.
Para a médica Isabel do Carmo, não se colocam dúvidas: “O leite é benéfico” por ser um alimento muito completo e rico e, portanto, é necessário. A especialista em endocrinologia exemplifica mesmo que os países que durante uma parte do ano não têm tanta luz solar, e por isso têm falta de vitamina D, são os que “bebem mais leite e são também aqueles em que a esperança de vida é mais longa”.
Já para Alexandra Bento, bastonária da Ordem dos Nutricionistas, também não há razões para fugir do leite por causa dos ossos, mas fica a ressalva: a saúde óssea é influenciada por diversos fatores: genética, ambiente, estilo de vida, alimentação e exercício físico. “Numerosos estudos demonstram a importância da ingestão adequada de cálcio para a saúde óssea, principalmente durante a infância, encontrando-se descrito que, durante a vida adulta, essa ingestão poderá ter um efeito mais reduzido na perda óssea.” E deixa uma ideia central: “A alimentação deve ser completa, variada e equilibrada.”
Estes artigos que falam sobre a alimentação fazem-me lembrar o fado. Há muitos anos, era a música nacional. Passado uns tempos passou a ser piroso e decadente. Hoje em dia os fadistas são como os impostos, aparecem em todo o lado, mas que esta música caiu no goto de quase todos e até em festivais de Verão agora temos o Fado. Por isso ou é o 8 ou o 80. Quer na alimentação, quer em tudo que nos rodeia.